A experiência em Rishikesh está a ser forte e rica ao nível pessoal e profissional.
Durante as primeiras duas semanas tive o privilégio de ter aulas com a professora Ekta, uma professora muito apaixonada pelo que faz e com a qual aprendi bastante.

Agora estou a meio do curso intensivo com a professora Usha Devi e tal como o nome diz, está a ser intensivo e intenso. Estava em tadasana e a professora veio ter comigo agarrou o meu pulso e disse: “Madame alonga o teu pulso e não deixes que a energia bloqueie aí. Quando eu fazia como tu, o Guruji Iyengar dizia-me – tu vives junto ao rio Ganges e não estás a deixar a energia fluir no teu corpo, tal como no rio”. Está tudo conectado sim.

À parte do Yoga, que foi o motivo que me trouxe aqui, estou a aprender muito ao nível pessoal acerca dos medos, a confiança nos outros, e o controlo da vida…a vida que não controlamos. Podemos e devemos aprender e fazer as nossas escolhas para encarar o que a vida nos apresenta e ver a vida com os nossos olhos com felicidade e esperança ou com insegurança…mas não a controlamos de todo!

Um dia fui convidada para uma cerimónia aqui numa fábrica de incensos. O dono da fábrica era de famílias muito humildes e cresceu com muito suor e trabalho. Nesse dia especial festejou-se o nascimento do Deus Dattatreya (considerado uma encarnação de três deuses Hindus Brahma, Vishnu e Shiva – trimurti).

Neste dia a fábrica fechou e todos os trabalhadores, familiares e amigos juntaram-se para fazer o almoço e almoçar. Na verdade, eles fizeram o almoço e serviram os convidados, para além de terem efectuado um puja (limpeza) individual e oferecerem uma nota de 50 rupias num envelope, como forma de agradecimento! Que riqueza e simplicidade…

A devoção e fé pelo rio Ganges também é algo que emociona só de ver. As pessoas acreditam que o rio limpa, protege e que o que pedimos ao rio se concretiza. Dizem que o rio fala connosco e nos ouve! Eu já falei com ele também.

Aqui há muitos templos, uns mais mágicos, uns mais “oportunistas” a tentar “sacar” o dinheiro ao estrangeiro. Muitos sadhus que renunciaram à vida para viver junto ao rio, a Deus. Uns são felizes, outros nem por isso e passam o dia a mendigar!! Uns parecem loucos, outros não sei…mas ainda não tive tempo de observar!

As senhoras que fazem a limpeza do Centro onde estou a estudar e a dormir não falam inglês!! Falamos por gestos e expressões faciais. Elas costumam descansar junto à varanda do meu quarto, riem, fazem tricô e sentam-se no chão a conversar.

No outro dia uma delas chorava e estava sozinha. Eu sentei-me ao lado dela e tentei perceber o que se passava, por gestos, sem falar…ou melhor, cada uma a falar a sua língua e nenhuma de nós sem se entender. Com os gestos percebi que ela me perguntava se eu já tinha almoçado e eu disse que já ia comer. Mas como ela não parava de fazer aquele gesto eu pensei que ela tinha fome. Dei-lhe uma banana e ela ainda começou a chorar mais e a olhar para o rio e a fazer gestos com os braços como se o rio tivesse levado alguém.

Pois bem, eu fiquei sem saber, mas como quando alguém morre é normal queimarem o corpo e colocarem no rio eu fiquei com a ideia que alguém que ela conhecia, amigo ou familiar tinha morrido. É proibido colocarem os corpos no rio aqui em Rishikesh mas eu já assisti a um.

O Inverno está a chegar ao norte da Índia e há dias que a sala de prática está tão fria que os músculos demoram a aquecer. Aqui não há aquecimento na sala de aula e o chão é de tijoleira…uma pessoa aqui ganha imunidade e aí temos luxo!!

A prática de asana (posturas físicas) é apenas um meio, uma ferramenta para passarmos aos aspectos seguintes do Astanga yoga de Patanjali. Pranayama (expansão e distribuição da energia através da respiração), Pratyahara (recolhimento dos sentidos), Dharana (concentração), Dhyana (Meditação) e Samadhi (completa integração, iluminação). É preciso anos e muitas horas de prática de asana para passarmos aos passos seguintes.

Esta prática, tal como disse Geeta Iyengar não deve ser encarada como um hobby, um entretenimento. Deve ser efectuada com regularidade, levada com alguma seriedade, disciplina, deteminação, coragem e dedicação!
Por isso desejo que em 2020 continuem a ter a determinação e a manter a vossa prática regular com uma dose de amor e boa disposição!!

Boas festas e um ano com muita paz desde Rishikesh.

Até breve,
Rita